18 abril 2010

SOBRE ASSIMILAÇÃO










Esse trabalho surgiu de um convite do curador do Museu da Pampulha, Marconi Drummond, para que eu realizasse fotografias sobre o próprio Museu. Toda a curadoria dessa exposição foi realizada na relação entre obras de arte e documentos históricos.  A maioria dos trabalhos pertencem ao acervo do Museu e alguns deles foram feitos em estreito diálogo com a arquitetura, são site specifics.  O Museu da Pampulha, por ter sido projetado por Niemayer para ser um cassino, é o oposto do cubo branco, espaço de neutralidade privilegiado na arte contemporânea. No lugar de paredes, vidros e espelhos. Por outro lado, essa dificuldade na expografia gera instigantes desafios para alguns artistas convidados a ali exporem, que decidem trabalhar sobre essa dificuldade mesma, em consonância com a história do lugar.

Minha idéia inicial para o projeto era realizar fotografias que seriam tão inundadas de claridade, que corroeriam a arquitetura. Queria aproveitar as imensas entradas de luz para carcomer o concreto pelo excesso de luminosidade. Aos pouco, e depois de ver os documentos da época do cassino, foram a vegetação e as árvores dos jardins que invadiram os elementos do edifício. As primeiras fotografias do prédio, também na exposição, foram realizadas nos anos 1940, e o mostram só, no alto da pequena colina, imponente, majestoso. Mas nos trópicos as árvores nascem e crescem numa velocidade quase impetuosa, e se impõe a despeito das vontades do arquiteto. O trabalho se direcionou então para essa assimilação transformadora da vultuosa vegetação pelo solene museu.

Assimilação essa que é uma das principais características da arquitetura moderna no Brasil.

A arquitetura brasileira se tornou moderna e a arquitetura moderna, a despeito de suas premissas originais, se fez brasileira, concretizando aquela noção de transculturação que compreende este processo como o toma-lá-dá-cá do contato entre culturas, no qual os indivíduos são transformados e transformam-se, a si mesmos e ao mundo circundante, por meio de práticas ambivalentes que envolvem, no caso do Brasil, a assimilação, a adaptação, o deslocamento”. Renato Leao Rego