20 abril 2010

SOBRE METAMORFOSE


Quatro trabalhos estão expostos em Recife. Dois novos, dois não. Um dos novos é Metamorfose. Nesse trabalho, uma fotoinstalação, vinte e uma fotografias mostram vinte e uma traduções distintas da primeira frase da novela de Kafka, em português. Como disse Modesto Carone, - principal tradutor de Kafka no Brasil - essa é uma das frases de abertura mais drásticas da literatura moderna e nela já está dado o curso posterior do texto, que é a progressiva liquidação do inseto Gregor pela família Samsa. Na verdade, muitos a consideram a sentença mais famosa de toda a literatura. Mas para além de Kafka, esse é um trabalho sobre a metamorfose da linguagem. Ou ainda, sobre o imenso abismo entre o nosso olhar para o mundo e nossa resposta em objetos de arte, imagens, textos ou seja lá o que for. Isso é tradução. Para Nicolas Bourriaud, o século XXI, que ele chama de altermodernidade, caracteriza-se pela tradução, ao contrário do modernismo e do pós-modernismo, que resumia o fenômeno artístico às origens e identidades. As traduções aparecem com tudo o que elas têm de magnífico e de terrível. Tradução, traição, transcriação. “Verwandelt”, do verbo “verwandeln”, por exemplo, foi traduzido por uns como “metamorfoseado” e por outros como “transformado”, e ainda “convertido” ou “transfigurado”.

A questão da tradução do texto kafkiano não é nova e está longe de se esgotar. A mais recente tradução de A Metamorfose saiu no final do ano passado. É de Celso Donizete Cruz. Na introdução do livro ele diz que, a principio, queria chamá-la A Transformação, mas “a experiência poderia ser desastrosa em mais de um sentido”. A questão é complexa e fascinante, por isso esse é um trabalho em progresso, à medida que for encontrando novas traduções, elas serão incorporadas à obra.


A fotoinstalação Metamorfose na Galeria Vicente do Rego Monteiro, Recife.


Detalhe da instalação.