10 janeiro 2011

O OLHO QUE AMANSA NEM SEMPRE É O QUE VÊ

Enviei pelo correio o livro Peso Morto para o Boave. Ele me mandou por e.mail esse texto.
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rachei a sola dos pés com enorme alegria – despaisagens
sem petulância de decifração o jogo do vir a ser
terra batida pedras tinturas perdas ferrugens rebocos crateras
grãos
minúcias encalacradas aterros semióticos vãos desabridos
sob sol escaldante cimento forjado areia ao vento lá se vai o tempo nenúfares
pelos ares
sem asfalto meus olhos correm rolam esvoaçam ao sabor dos perigos
dois mil e dez pra que serve um calendário se tudo é miragem
viragem milhagem vagabundagem dos lotes vagos despossuídos
amores baldios delírios desavergonhados espalhados
sem refrão nem estrofe ou qualquer outra caretice calhorda paralítica
que os deuses nos livrem do profundo sono domesticado das setas indicativas
peso morto sabedoria dos poros da terra
sai o dito e fica o não dito pelo perdido ciclo: paralelepípedos
o olho que amansa nem sempre é o que vê

flávio boaventura, o boave

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*Flávio Boaventura é poeta e ensaísta. Nasceu em Belo Horizonte em 1972. Publicou Delírio Trêmulo (2003); Elipses (2007), em parceria com Vera Casa Nova; A máscara inquieta – ensaios sobre filosofia e poesia (2009); O Amante da Algazarra - Nietzsche na poesia de Waly Salomão (2009), entre outros.